quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Procusto


     Alguns sinais de intolerância:
     Acreditar que,
 todas as nossas crenças são verdadeiras;
·         podemos mudar as pessoas;
·         temos o controle de tudo e de todos;
·         reunimos condições para salvar o mundo;
·         é sempre aceitável a imposição de nossos pontos de vista;
·         o outro é perfeito e, como tal, não pode falhar.
     Esses itens não esgotam o padrão de comportamento da pessoa intolerante, mas evidenciam algumas de suas características.
     Claro é que nesse comportamento há mais conflito e ausência de autoconhecimento do que o desejo de prejudicar ou subjugar.
     É sinal de intolerância, expresso de variada forma, a incapacidade de conviver bem com as pessoas como se nos apresentam, com suas idiossincrasias. Inclui-se aqui também a dificuldade de aceitar determinadas situações que não podem ser modificadas, momentaneamente ou não.
     Tentando ajustar o que o outro é às próprias vontades e/ou necessidades, corrompemos-lhe a identidade, inviabilizando assim relações saudáveis e verdadeiras.  
     Oportunamente, lembramos a personagem mítica, Procusto.
     Procusto era um bandido que vivia na serra de Elêusis. Em sua casa, havia uma cama de ferro, que tinha seu exato tamanho. Convidava todos os viajantes a se deitarem nela. Se os hóspedes fossem demasiado altos, ele amputava o excesso de comprimento para ajustá-los à cama, e os que tinham pequena estatura eram esticados até atingirem o comprimento suficiente. Uma vítima nunca se ajustava exatamente ao tamanho da cama porque Procusto, secretamente, tinha duas camas de tamanhos diferentes.¹
     Assim, de forma análoga à da personagem mitológica, tentamos enquadrar as pessoas em nossas expectativas. Se a conversão não acontece sobrevêm a frustração, a raiva e por fim o distanciamento.
     Sinaliza-se, assim, que nossos processos afetivos padecem de falta de amadurecimento. Por isso existe tanto sofrimento e tanta luta inglória nos movimentos em busca da alegria nas relações, sejam elas entre namorados, cônjuges, pais e filhos, amigos, companheiros de trabalho etc.          
     Será que sofremos a síndrome de Procusto? Temos esticado ou cortado muita gente? A métrica tem sido nossa prioridade ou já  valorizamos e respeitamos as diferenças?
     Procusto deve ter sido tão solitário... E quantos de nós temos olhado ao redor sentindo a ausência de pessoas tão queridas, que afastamos de nosso convívio deliberadamente.
     Jesus sinalizou: Meus discípulos serão conhecidos por muito se amarem
     Ah, quão longe nos encontramos da fraternidade proposta pelo Cristo! Quanto receio de abrir mão de pontos de vista... Quantas guerras declaradas a pretexto de nos protegermos!
     Recorramos à orientação de Agostinho³ buscando o autoconhecimento e, assim, abandonaremos em definitivo as duas camas de ferro (o fardo pesado) que insistimos em carregar: a intolerância.

Rita Mercês Minghin

¹ http://pt.wikipedia.org/wiki/Procusto
² João, 13:35

³ Questão 919 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec

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