terça-feira, 19 de novembro de 2013

O Despertar da Consciência, Sebastião Camargo


A necessidade do erro

por Daniel Ferreira Gambera - daniel_gambera@hotmail.com

Durante muito tempo, como muitas pessoas, cometi o mesmo erro: queria, a todo custo, não errar... Quando, por uma razão qualquer eu percebia um erro meu, um grande mal-estar se apoderava de mim e eu ficava quase imprestável para qualquer outra coisa, enquanto não pudesse “digerir” esse “erro imperdoável”...

Que insanidade, não? Ao me tornar tão vulnerável após ter cometido um erro, era quase incapaz de continuar fazendo quase todas as outras coisas que já sabia fazer bem... E isso, certamente, acaba se constituindo em mais um erro, não? Uma bola de neve, que por alguns milagres de esquecimento que as boas noites de sono nos propiciam, acabava por se derreter, mais tarde do que cedo...

Após muito meditar sobre o assunto, conversar com outras pessoas e ver bons e maus exemplos, cheguei a uma conclusão que gostaria de partilhar: pessoalmente, acredito que os erros sejam cotados por um preço muito caro, hoje em dia... Além do erro em si, que já não era o que queríamos, ainda temos que pagar, freqüentemente, o preço do embaraço, da vergonha, da culpa, da necessidade de reparação, da retaliação e da punição.

Se formos realistas, veremos que o erro faz parte do dia-a-dia. Quem está aprendendo coisas novas vai cometer erros - é inevitável! - seja esse erro uma confusão na hora de fazer uma conta ou algo mais sério. Quem deixou de cometer erros apenas atesta que, talvez, esteja cometendo o grande erro de deixar de se desenvolver. Estacionou na sua zona de conforto e competência.

Várias utopias espiritualistas nos falam dos seres mais evoluídos que nos parecem infalíveis e sugerem que sejamos como eles... Mas, talvez, eles apenas estejam lidando com outros tipos de aprendizado e de erros que fogem à nossa compreensão.

Será que não podemos "desdramatizar" um pouco os erros? Errei sim, ainda bem! E foi com esse erro que aprendi como antes eu já estava errado... e pude entender como mudar.

Sim, sei... Tem, também, nossa tradição de guardar os erros nossos e dos outros... Como se todo aquele que errasse fosse mais como um idiota incompetente irresponsável que não devesse estar fazendo aquilo... ao invés de alguém que utilizou todo o conhecimento e habilidade que tinha até o momento e acabou se surpreendendo ao descobrir que, afinal, algumas coisas ele não havia entendido direito nem era tão habilidoso quanto esperava...

Talvez, ao invés do erro ser um ato de estupidez, ele seja, na maior parte das vezes, um ato de coragem... A coragem de testar aquilo que se acha que sabe. Sim... Aquele erro que é fruto do choque com a realidade... Quantas vezes nos iludimos e, nos consideramos livres de erros, simplesmente porque nunca nos permitimos esse choque? Podemos achar que sabemos tudo, entendemos tudo mas, na hora do teste da realidade levamos aquele tombo! Graças a Deus! Ainda bem que esses tombos acontecem! Se não nos deixamos abalar tanto, somos capazes de tirar muito aprendizado deles.

Numa analogia, esses erros seriam o equivalente ao revelar-se uma foto mal-tirada. O fotógrafo principiante pode, assim, olhar o resultado e perceber, por exemplo, que enquadrou mal a foto, que estava com o dedão na frente da lente, etc... Por outro lado, um outro aluno, que nunca se dispusesse a revelar as suas fotos durante o curso todo (para não errar?!) poderia ter a desagradável surpresa de descobrir que cometeu os erros mais grosseiros que seriam corrigidos facilmente, se ele apenas tivesse permitido que eles fossem revelados.

Claro que o erro não é o objetivo! Todos queremos acertar. Mas, também não é demérito. Claro que temos que continuar sendo responsáveis pelos nossos erros. Os erros têm seu preço, mas culpa, ressentimento, vergonha, isso é ágio que muitas pessoas manipuladoras aprenderam a comercializar em seu favor. Claro que há quem não queira acertar e erre de propósito. Mas, nesse caso, a pessoa não está errando. Ela sabe exatamente o erro que quer produzir... e consegue. Claro que há quem não tenha disposição para aprender com quem já sabe e comete muitos mais e mais graves erros do que os que lhe seriam necessários... Claro que há quem nunca aceite reconhecer os seus erros e continue produzindo os mesmos erros, somente porque nunca se permitiu aprender com eles...

Mas, quem sabe que a realidade não se comove com a auto-complacência, entende que todas essas estratégias para nos mantermos menos conscientes ou menos responsáveis, somente agem contra nós próprios, tendo, depois, um custo muito mais alto.

Sugiro que possamos ficar mais à vontade para cometermos os nossos próprios erros. Que não nos recriminemos tanto. Que continuemos a avaliar os riscos de errar e corramos aqueles que consideremos adequados. Que continuemos sendo responsáveis pelas conseqüências de nossos erros. E que não fiquemos carregando pesos desnecessários dos erros passados, tanto dos nossos quanto dos outros.

Cometer os próprios erros seria utilizar a experiência, o conhecimento e as habilidades que se possui para tentar realizar aquilo que se deseja. Quando o erro acontecer, podemos, através dele, saber o que ainda estava falho, seja em nossa experiência, em nossos conhecimentos ou em nossas habilidades...

Sugiro que possamos, também, ficar mais à vontade para deixarmos de cometer os erros dos outros.

Quantas vezes nos deixamos seduzir ou intimidar por pessoas que sabem o que é “certo”? Só que o “certo” delas nada mais é do que um tipo de erro diferente dos nossos... Se eu começo a ver e a interagir com a realidade da forma como a outra pessoa faz, acabo perdendo ou deixando de desenvolver minha autonomia e independência. E entendo que essas são qualidades essenciais para o espírito. Creio que cada pessoa é um Universo e possui uma diretriz interna própria, única, individual e faz parte de seu trabalho espiritual aprender a agir em favor dela.

Se uma pessoa somente cometer os erros dos outros, nunca vai poder saber o que há de imaturo em si. Vai perder o contato com a sua realidade e criar uma grande dependência pelo “sábio” que lhe ensinou o “certo”. Talvez, se ela se arriscasse a cometer, timidamente, seus próprios erros, a sua tentativa pudesse dar certo e descobrisse que possui maturidade e força maiores do que supunha. Talvez ela já possuísse tudo para acertar. Talvez, por outro lado, se ela estivesse muito longe do acerto e todos os seus conceitos estivessem bagunçados, fora da realidade... Quem sabe, um pequeno erro providencial a levasse a reformulá-los completamente.

Então, por mais frustrante que possa ser o erro, ainda assim, considero-o um sinal positivo de vida, de desenvolvimento e de progresso. Assim, por mais indesejado que seja o erro, ele é, freqüentemente, necessário e inevitável. Que eu possa, então, quando cometer mais um erro saber que, com ele, estou pagando o justo preço pelo meu aprendizado e que possa, ao invés de reclamar, me desesperançar, me revoltar, agradecer pela maravilhosa chance de colocar-me à prova, de errar... e aprender!
Fonte: Site, Somos Todos Um
Texto revisado por Cris